BR-319: a estrada da devastação
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Prestes a ser asfaltada, a BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, teve sua licença prévia suspensa por 60 dias para que o Ministério do Meio Ambiente analise as alternativas e proponha as medidas necessárias para conter o avanço do desmatamento projetado para a área e todos os outros problemas sócioeconômicos gerados pela pavimentação da estrada. O licenciamento da BR-319 a toque de caixa é de interesse do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, que pretende pavimentar sua candidatura a governador do Amazonas em 2010 com o asfaltamento da rodovia. Enquanto o imbróglio não se resolve, o Greenpeace sobrevoou, ao longo de quase sete horas, toda a extensão da estrada, que corta uma imensa região de floresta primária no Amazonas, estado que tem a maior área de floresta preservada na Amazônia. 

Nas proximidades de Manaus, em uma faixa de 200 a 300 quilômetros a partir das margens da estrada, o desmatamento já é bastante intenso embora sem sinais aparentes de ocupação (pecuária, agricultura etc). Apesar dos impactos causados pela expansão do Arco do Desmatamento ao sul e pela ocupação das margens da rodovia no entorno de Manaus, a paisagem predominante ao longo da BR-319 é um mosaico de florestas, campinaranas, campos e afloramentos rochosos. A grandeza do rio Madeira e as praias e lagos do Purus completam o cenário. 

Embora ainda bastante preservada, a paisagem também é marcada por desmatamentos, que tendem a aumentar muito com a construção da rodovia. Entre os municípios de Borba e Novo Aripuanã, no sudeste do estado, vários desmatamentos pequenos e bastante recentes mostram que a dinâmica de ocupação da estrada, incentivada pelo anúncio da pavimentação, já começou. Na porção mais central da BR-319, pudemos ver grandes áreas derrubadas pela abertura da estrada e abandonadas menos de dez anos depois já complementamente regeneradas. Já nas proximidades de Humaitá, o cenário é bem diferente, com madeireiras operando ao longo da estrada…
… e áreas sendo abertas e preparadas para agricultura e pecuária.

A destruição avança até mesmo dentro das Unidades de Conservação criadas em 2008 no entorno da rodovia como parte da estratégia para conter o desmatamento. Além disso, a pavimentação da BR-319 vai gerar, a exemplo de todas as estradas existentes na Amazônia, o surgimento da ‘espinha de peixe’ – ou seja, a abertura de várias vicinais a partir da rodovia principal, potencializando o avanço do desmatamento. Ao todo, seis estradas vicinais ligando sedes de municípios à rodovia já estão projetadas, porém apenas a estrada que liga Manicoré à BR 319 foi aberta mas está intrafegável por falta de manutenção. 

Aberta durante a década de 70, durante o governo militar, a BR-319 foi pavimentada às pressas, mas, ao longo dos anos, sem fluxo e sem manutenção, foi se degradando pouco a pouco até tornar-se intransitável. Em 1988, a linha de ônibus Manaus-Porto Velho foi desativada, restando o trecho entre Porto Velho e Humaitá, e cerca de mais 200 quilômetros após este município, ainda trafegáveis. A reconstrução da BR-319 vem sendo agendada e adiada desde 1996, quando foi incluída como uma das metas do Plano Brasil em Ação, do governo FHC. 

A ressurreição da BR-319, listada no PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), veio pelas mãos de Alfredo Nascimento, após assumir o Ministério dos Transportes. Para o Greenpeace, permitir o asfaltamento dessa estrada, no momento em que o mundo discute a absoluta necessidade de parar o desmatamento como contribuição para reverter os efeitos das mudanças climáticas, seria um contra-senso ambiental e econômico.

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