Finanças Sustentáveis
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Leo Johnson: precisamos de um novo modelo de negócios

O inglês, especialista em minimização de riscos e maximização de oportunidades para instituições financeiras, foi o convidado especial da última reunião do Conselho do Planeta Sustentável. Lá ele afirmou que estamos longe de uma solução para o impasse entre capitalismo e sustentabilidade


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Pela primeira vez, a reunião de conselho do Planeta Sustentável ocorreu fora da Editora Abril: foi realizada em 14 de outubro, na sede do Banco Real, em São Paulo. A intenção é que as próximas aconteçam também em espaços ligados aos demais patrocinadores do movimento e contem com a presença de palestrantes especiais que abordem o tema da sustentabilidade por diferentes vieses.

Para falar sobre finanças sustentáveis, o Banco Real convidou o especialista Leo Johnson, consultor de 50 instituições financeiras no mundo e um dos fundadores do Sustainable Finance Ltd, empresa que oferece produtos e serviços a bancos e cuja missão é transformar riscos socioambientais em oportunidades de negócios. Johnson iniciou sua palestra apresentando um gráfico com os principais modelos dos empreendimentos atuais:

- muito voltados para as questões econômicas e quase nada para as sociais;
- muito ligadas ao social, mas pouco eficientes economicamente: esse seria o caso dos projetos de AL Gore, que investe seu próprio dinheiro em iniciativas sociais;
- não eficientes economicamente e nem voltadas para o social e
- um negócio sustentável tanto do ponto de vista econômico quanto socioambiental, o que seria a tendência para o futuro.

Leo Johnson diz que, quando o sistema de uma empresa está estressado, a responsabilidade social pode ser vista como subversiva, já que a função principal de uma organização privada é gerar dividendos para os acionistas. No entanto, cada vez mais, há que se analisar os riscos sociais e ambientais dos investimentos. Isso porque, segundo o consultor, o governo deixou de ser o único regulador do mercado, tendo a sociedade civil assumido esse papel. Portanto, antes de investir seu dinheiro em um negócio, uma instituição financeira deve levar em conta não apenas os riscos econômicos, mas, também, questões como utilização de trabalho escravo, testes em animais, manifestações de ONGs ou cidadãos contra um empreendimento, possibilidades de conflitos sociopolíticos com os países onde as empresas são instaladas, riscos de concorrência com produtos mais baratos vindos de economias emergentes e que inundam o mercado inesperadamente e a própria emissão de CO2.

“As empresas estão diante de novas pessoas a quem devem satisfações e estão sendo penalizadas por não cumprirem certas exigências. Antes, o governo era o regulamentador número um e as regras eram estáveis e previsíveis, não consideravam o risco ambiental e não pretendiam fechar a empresa”, comenta Johnson. No entanto, de acordo com o consultor, com a sociedade civil à frente da regulamentação, as empresas recebem muitos sinais diferentes e até mesmo conflitantes e sofrem de uma esquizofrenia na medida em que não sabem para que lado seguir, tentam demonstrar que atendem às demandas, mas, não levam o discurso da sustentabilidade para a prática.

Com o aquecimento global e as mudanças climáticas na ordem do dia, o valor da ciência também foi reforçado. Mas as posições divergentes no meio científico fazem com que o que era uma verdade incontestável em um momento seja substituído por uma afirmação oposta, pouco tempo depois. Johnson não acredita que as empresas se tornem - de fato - mais sustentáveis em curto prazo.
O relatório do IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, por exemplo, indica que a média global de emissões de carbono por pessoa deve ficar em torno de 8,5 toneladas. Na Inglaterra, essa quantidade per capita chega a 15 toneladas e nos Estados Unidos, a 23. “Você não consegue sair disso, se a natureza do capitalismo é essa”, diz Johnson. “É difícil ver como a democracia liberal, que depende dos eleitores, pode navegar entre o capitalismo e as mudanças climáticas”. Ele diz que, para que haja mudanças de atitude reais ligadas ao meio ambiente, é preciso responder à pergunta: “Queremos querer fazer isso? Eu quero querer reduzir o meu nível de CO2?”. Para Johnson, nossa resposta ainda é negativa.

Para que cheguemos ao ano de 2057 com um aumento de temperatura de 2 graus em vez de 5, é preciso diminuir nossas emissões de CO2 em 16 bilhões de toneladas, o que significa aumentar em 700 vezes nossa capacidade de energia solar, 25 vezes a de energia eólica, produzir 50 vezes mais etanol ou capturar emissões de 800 usinas de carvão ou de 1600 de gás. “As tecnologias existem, mas são mais caras e os bancos não querem subsidiá-las. Será que vamos investir em fontes de energia não tóxicas e deixar de gerar bônus de 4 milhões de dólares aos executivos? Para que isso aconteça, é preciso contar com o setor financeiro, a mídia e os consumidores para mobilizar a vontade política”.

O consultor acredita que a demanda por fontes renováveis de energia vai crescer e a tendência do mercado é punir os que contribuem para o aquecimento global e recompensar os que fazem sua parte e preservam o meio ambiente. De todo modo, os pobres, certamente, serão os mais atingidos pelas mudanças climáticas. “Se você for rico, a chance de receber água poluída é zero. Se sua renda per capita for de até mil dólares, a probabilidade de que a água que chega até você esteja contaminada é de 80%. No Brasil, há 43 milhões de pessoas sem acesso à água. Imagine como as mudanças climáticas vão agir sobre isso”, alerta Johnson.

Para ele, estamos vivendo um momento de transição entre dois sistemas econômicos: de um modelo que ignora totalmente os fatores externos ao empreendimento e não os internaliza no balanço financeiro – Johnson diz que, inevitavelmente, esses fatores externos vão “cobrar a conta mais cedo ou mais tarde” – para um modelo que valoriza os fatores socioambientais. Segundo o consultor, temos condições de viver em um modelo no qual as injustiças sociais podem ser exterminadas, mas ainda não queremos fazer isso.

Jonhson reconhece, como válidas, iniciativas como a da financeira mexicana Compartamos – que empresta dinheiro para mulheres pobres com juros de 80% ao ano – e a do Grameen Bank, de Muhammad Yunus (leia a reportagem “Yunus fala sobre microcrédito a empresários”), que empresta a juros bem mais baixos, também para mulheres pobres e com taxas de inadimplência inferiores a 1%. Ainda assim, ele afirma que falta muito para chegarmos a um modelo financeiro em que o capital seja investido em ativos sustentáveis e celebrar pequenas vitórias nesse sentido pode acabar passando a impressão de que estamos perto de uma solução para o impasse entre o capitalismo e a sustentabilidade, quando, na verdade, não estamos.

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Fonte: www.planetasustentavel.com.br

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